quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Viagem ao Mundo Fantástico do Supermercado (Parte 1)

Sou uma adolescente.
E, como consequência, tenho de fazer (quase) tudo o que a minha mãe manda. Na maioria das coisas que ela me pede, reclamo.

Quando ela me pede para arrumar o quarto, respondo que o quarto é minha propriedade privada e que se ela lá entrou para ver que estava desarrumado, então fez algo ilegal e que posso processá-la (é claro que nesta discussão ela ganha. Não porque argumenta que o quarto pertence à casa e a casa é legalmente dela, mas sim porque me lança um daqueles olhares qe significam: “Acho que já não queres sair com os teus amigos amanhã à tarde.” ou assim. Chamo-lhes Olhares-X).
Quando me pede para traduzir o Curriculum do Agostinho para Inglês (O meu padrasto não percebe NADA de Inglês. Mas mesmo nada. Népias. Eu podia dizer-lhe: “Hello, my name is Carolina. How are you?” e a sua resposta seria um olhar confuso e um simples: “Hâ?”. Por isso, agora que precisa de ter o curriculum traduzido para essa língua fantástica, fez-me uma proposta que eu não pude recusar: Eu traduzia o Curriculum e íamos à Fnac comprar dois livros à minha escolha – escusado será dizer que, graças ao meu olhar de cachorrinho perdido, lhe saquei não só dois livros como também três CDs e um bilhete para um concerto de rock. - Mas eu tenho andado ocupada – ocupada, aqui, significa preguiçosa – e ainda só vou a meio da primeira página) reclamo que também tenho de estudar para o Teste Intermédio de Matemática e o de Fisicó-Química e acrescento que “pensava que os estudos deviam ser a minha prioridade” (que é o que a minha mãe sempre diz). Esta discussão, costumo ganhar.

Mas quando ela me pede para ir fazer compras, não reclamo. Pego nos 30 euros que ela me dá, saco do MP3 e vou quase a correr. Não sei se concordam, mas para mim, ir ao Supermercado fazer compras é uma das coisas mais excitantes da aborrecida vida citadina!
Costumo ir ao Modelo, porque tem mais variedade e também mais quantidade do que o Dia. O Pingo Doce é muito longe de minha casa, não dá para ir a pé, e também não tem algumas coisas que eu costumo comprar. Por isso, a minha escolha costuma ser o Modelo (Sim, eles fizeram-me um desconto de 20% se eu fizesse publicidade no meu blog. Haha).
A minha viagem ao mundo fantástico do Supermercado começa mal saio de casa. Eu e uns amigos temos um jogo, que é fixarmos o olhar numa pessoa à nossa escolha e tentar adivinhar quem é, se é casada, se tem filhos, de onde vem e para onde vai. A maioria dos meus amigos costumam dizer coisas simples como: “Vai de casa para o trabalho. Não é casado, mas tem namorada. Tem um cão.”
Eu, obviamente, com a minha imaginação um pouco fértil demais, acrescento coisas como: “Acabou de sair de casa à pressa, porque encontrou a namorada e o melhor amigo na cama. Não vai para o trabalho, vai a casa do pai buscar a velha espingarda que o pai utilizava na caça. O cão dele fugiu de casa e voltou grávido, pelo que eles descobriram que afinal era uma cadela e mudaram-lhe o nome de Quintino para Quintina. Tem uma filha de 19 anos que acabou de conhecer, porque a mãe dela nunca lhe disse que estava grávida nem que ele era o pai. Aposto que quando chegar a casa do pai, vai ver o pai a trair a sua mãe com uma rapariga de 19 anos…. A sua filha!”
E depois os meus amigos olham para mim de forma muito estranha e resmungam algo como: “Vês televisão a mais”.
Mas adiante. Costumo fazer esse jogo enquanto me dirijo ao Modelo. É claro que é 10 vezes menos divertido fazê-lo sozinha, mas dá para me rir interiormente um pouco.
Com o MP3 sempre ligado, enfrento uma dúvida: Vou pelo caminho mais longo, ou arrisco ir pelo caminho mais perto e passar por uma loja com um senhor que me apanhou a mim e a uns amigos a EMBELEZAR uma parede?
Costumava ir pelo mais longo (o tipo é um pouco assustador), mas uma vez arrisquei ir pelo mais perto e notei que o gajo já lá não estava. Deve ter sido despedido. Haha.
De qualquer maneira, quando chego ao Modelo, a primeira coisa que faço é deixar de vinte a trinta cêntimos ao homem que está a tocar violino/acordeão/flauta/guitarra à entrada. Não costumo cair na conversa daquelas mulheres com criancinhas ao colo a implorar e isso, mas se me derem boa música, podem crer que recompenso. Quando fomos a Londres, a minha mãe tinha de me tirar todo o dinheiro dos bolsos antes de entrarmos no Metro, porque havia sempre algum gajo que tocava lindamente e ao qual eu dava à volta de uma, duas libras (que são 1,50 e 3 euros, respectivamente), dependendo do dinheiro existente nas minhas mãos.
Fico alguns segundos a ouvir a música do homem, e depois entro no Modelo, colocando os headphones do MP3 de novo nos ouvidos. Pego na cestinha azul e aventuro-me pelos caminhos labirínticos do Supermercado. O que me vale é que já fui tantas vezes àquele Modelo, que já sei onde está cada coisa (aposto que se alguma vez me confundirem com uma empregada, não os vou desiludir), por isso, não me perco.
E começa a parte que mais gosto na minha aventura: escolher os produtos.
A variedade é tanta, que até dói. Existem tantas marcas de cereais, de yogurtes, de detergentes, de papel higiénico, que me apetece fazer o jogo do pim-pam-pum e o que calhar é o que eu levo.
Uma das coisas que me mete muita piada é a compra dos cereais. O preço é exorbitante. Muitos de vocês lembram-se, com certeza, dos bons velhos tempos em que uma caixa de Chocapics custava de 80 cêntimos a 1 euro. Agora, o raio do preço chega aos 3 euros. 3 euros! Três caixas de cereais poupadas e já tenho dinheiro para ir comprar um livro. Fogo!
Okay, pronto, na verdade não chega bem aos 3 euros, são só 2,99 euros. Mas isso é apenas mais uma maneira de gozar com a nossa cara.
- Mãe, posso comprar Chocapics?
- Quanto custam?
- 3 euros.
- É um bocadinho caro, não?
- Não, mãe, enganei-me, são só 2 euros e 99.
- Ah, tabém, toma lá o dinheiro.
Quer dizer. Carambas, pá. Pensam que lá por ser menos um cêntimo que a gente fica toda contente da vida? Era dar-lhes 1 murro e 99, para ver se atinam.
Bem sei que muitas moedas de 1 cêntimo, reunidas, até dão dinheirinho, mas por favor. Até parece que posso ir à Fnac comprar um CD dos Nirvana apenas com moedas de 1 cêntimo. O gajo/gaja da caixa olharia feito(a) parvo(a) para mim e os resmungos dos restantes clientes atrás de mim na fila seriam bastantes.
Mas adiante (não sei se repararam, mas tenho o mau hábito de começar a desviar-me do assunto principal. Peço desculpa se isso tornar os meus textos mais complicados).
Depois ainda há aquelas caixas de cereais que dizem: “BRINDE GRÁTIS NO INTERIOR”, mas depois vamos a comparar o preço desses produtos com os que não têm brindes e as diferenças são de 50 a 70 cêntimos. Grátis, uma ova! E o brinde é uma mísera merdinha (peço desculpa) de plástico que não serve nem para os bebés, que podem engolir as peças pequeninas, nem para as crianças, que se fartam deles passados vinte segundos, nem para os adolescentes, que se estão nas tintas para o brinde, o que eles querem é os cereais.
Espectacular.


(( Continua na parte 2 ))

1 comentário:

Grão de areia disse...

Um dia destes quero ir ao supermercado contigo... :D